Quem me conhece, sabe: eu tenho pavor de corrupção! Sabe essa história de querer levar uma "comissão" em tudo o que faz? Eu tenho nojo disso! Nosso país já poderia estar no ano de 3024 se não houvesse tanta gente asquerosa se dedicando a roubar, de forma sorrateira, as empresas e as instituições.
O setor de suprimentos desempenha um papel crucial em qualquer organização, sendo responsável pela aquisição de bens e serviços essenciais para as operações. No entanto, quando a ética é posta de lado, este setor pode se tornar uma ferramenta poderosa para a manipulação de preços e a exclusão de concorrentes, especialmente em cenários em que funcionários da empresa atuam em conluio com os fornecedores para beneficiar apenas um pequeno grupo de pessoas.
Imagine um setor de suprimentos comprometido em facilitar a vida de fornecedores participantes de um cartel e em eliminar novos entrantes que ameacem a estrutura estabelecida. As práticas inescrupulosas podem ser diversas e difíceis de detectar, mas algumas delas são mais comuns do que se imagina.
Há uns anos eu publiquei esse artigo, contando 10 práticas que os setores envolvidos em compras e supply chain realizam, obscuramente, nas empresas e as nefastas consequências destas práticas para as operações e para a saúde financeira das empresas.
Pois bem... parece que o tema ainda é absurdamente atual, então replico essas 10 práticas inescrupulosas a seguir.
1. Especificações direcionadas
O setor de suprimentos pode elaborar especificações detalhadas que, coincidentemente, apenas os fornecedores do cartel conseguem atender. Isso limita a concorrência e impede que novas empresas, mesmo com produtos de qualidade, participem das licitações. Em um caso recente, percebemos um líder de suprimentos dando dicas para um proponente sobre o que ele deveria inserir na sua proposta técnica para se destacar dos demais proponentes. E o pior, essa intervenção aconteceu numa reunião online (gravada) com a participação de diversos setores. Pegou bem mal, isso.
2. Exigências de qualificação irreais
As exigências para que um fornecedor se qualifique para participar de um processo licitatório podem ser infladas, dificultando a entrada de novos players no mercado. Essas exigências podem incluir tempo de experiência excessivo, certificações desnecessárias, volumes de produção irreais para empresas iniciantes, análises de compliance desbalanceadas, exigências financeiras super valoradas, etc.
3. Prazos de entrega impossíveis
Estabelecer prazos de entrega curtos e impossíveis de cumprir para empresas que não estejam preparadas e próximas geograficamente, como estão as do cartel, é uma forma de favorecer os fornecedores já estabelecidos. Muitas vezes, esses setores inescrupulosos atrasam, propositadamente, etapas do processo de licitação para que os novos proponentes não tenham tempo hábil de elaborar propostas técnicas e comerciais em um nível competitivo com as empresas que já estão habituadas com o processo.
4. Clausulas contratuais abusivas
Contratos com cláusulas que impõem multas exorbitantes por atrasos ou pequenas falhas, ou que exigem exclusividade na venda de produtos, ou ainda exigir cláusulas de seguros com valores e condições exorbitantes, podem dissuadir novos fornecedores de se arriscarem a fazer negócios com a empresa.
5. Troca de informações privilegiadas
O setor de suprimentos pode fornecer informações confidenciais sobre as propostas de outros concorrentes aos fornecedores do cartel, permitindo que eles ajustem suas ofertas e garantam a vitória na licitação. Convivências estranhas entre colaboradores da empresa e dos fornecedores podem indicar que algo está sendo conversado "por debaixo dos panos".
6. Manipulação de propostas
As propostas dos fornecedores podem ser abertas antes do prazo final e, em seguida, manipuladas para garantir que a empresa do cartel apresente a oferta vencedora. Vimos um caso em que o setor de suprimentos, mesmo após receber as propostas dos novos proponentes, abriu prazo extra para que os fornecedores "protegidos" pudessem entregar suas propostas comerciais. Com isso, além do prazo extra para finalizar suas propostas, não há nenhuma garantia de que os fornecedores não conheceram, com antecedência, as propostas de seus novos concorrentes. Uma dica para isso é sempre exigir que as propostas sejam apresentadas em envelopes lacrados e os envelopes sejam abertos na presença de todos os setores envolvidos, afim de garantir credibilidade e alinhamento nas propostas recebidas. Reservar sigilo das propostas recebidas exclusivamente ao setor de suprimentos é um absurdo e uma prática de que deve ser banida.
7. Negociações secretas
Acordos de preços e condições de pagamento podem ser negociados em segredo com os fornecedores do cartel, eliminando qualquer possibilidade de concorrência justa. É muito comum o "rodízio de vencedores" quando há um cartel. Para que não fique explícito nenhum ato de beneficiamento para algum fornecedor, o cartel, com ajuda de colaboradores internos da empresa, escolhe qual das empresas que compõe o cartel vai vencer essa ou aquela licitação, gerando uma alternância planejada entre os ganhadores.
8. Suborno e corrupção
Pagamentos ilícitos e outras formas de corrupção podem ser utilizados para influenciar as decisões de compra e garantir que os fornecedores do cartel sejam favorecidos. MESADINHA! Todo mundo ganha um dinheiro por fora para facilitar a vida dos fornecedores que compõem o cartel. Uma análise mais aprofundada no patrimônio dos empregados da empresa pode ajudar a denunciar colaboradores que mantém um padrão de vida incompatível com o salário que recebem anualmente. Outro fato que pode ajudar a identificar os "infiltrados" é a frequência com que eles se reúnem para conversar assuntos sigilosos, principalmente quando essas conversas são realizadas em pátio aberto ou áreas isoladas, em que não há possibilidade de ter outras pessoas ao redor, ouvindo as conversas.
9. Retaliação contra denunciantes
Funcionários que denunciarem as práticas corruptas do setor de suprimentos podem sofrer represálias, como demissão, rebaixamento ou isolamento dentro da empresa, além de ameaças de vida ou à sua integridade física tanto para si, quanto para os membros de sua família. Geralmente, essas ameaças iniciam com frases soltas que são ditas com ar de duplo sentido, no melhor estilo "compreenda quem tiver inteligência para compreender". E vão piorando e se tornando cada vez mais agressivas à medida que mais questionamentos contra o cartel são realizados. Isso realmente é capaz de colocar gente boa e competente para fora da empresa!
10. Auditorias e controles frouxos
A falta de auditorias internas e controles eficazes sobre as ações do setor de suprimentos facilita a ocorrência de práticas inescrupulosas e a manipulação de processos licitatórios. Isso se alia à falta de controle e gestão sobre os contratos firmados por um ou mais setores consumidores de serviços de uma unidade operacional. Medições irreais, falta de gestão de saldos e prazos, falta de controles de pagamentos, faturamentos em duplicidade por serviços que já haviam sido realizados (outro dia desses vi um faturamento de 2 milhões de reais por uma mobilização de um fornecedor que já havia sido mobilizado em outro contrato já findado e utilizaria os mesmo recursos no novo contrato), falta de controle sobre os custos realizados x custos orçados em tempo hábil (dentro das janelas mensais), dentre outros problemas comuns às empresas brasileiras, agravam sobremaneira a situação financeira da empresa e o atingimento das metas de performance.
Um ponto importante a ser citado é que o problema não se localiza apenas no setor de suprimentos. É comum você perceber engenheiros priorizando as propostas técnicas de certos fornecedores e desmerecendo as propostas dos novos proponentes. Também é comum percebermos a conivência de setores como financeiro, compras, almoxarifado, e, principalmente, da alta liderança da empresa que, muitas vezes, também está envolvida nesses trâmites inescrupulosos e, quando recebe denúncias à respeito das atividades do cartel, promete ações para investigar, mas nada é feito.
Portanto, a conivência do setor de suprimentos com cartéis causa prejuízos significativos para a economia, elevando os preços dos produtos e serviços, reduzindo a qualidade e a inovação e prejudicando a livre concorrência. É fundamental que as empresas estejam atentas a essas práticas e adotem medidas para garantir a transparência e a ética em suas operações de suprimentos.
Seguimos de olho, buscando nos manter firmes aos nossos valores de honestidade, ética, responsabilidade e competência, valores inegociáveis, no meu ponto de vista.
E você, já teve de conviver com essas práticas no cotidiano? Vou ficar feliz se puder compartilhar comigo e com minha rede as suas experiências!
Um forte abraço e muito sucesso à todos!
Júlio Ribeiro
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