
Não, você não leu errado! Estamos tão acostumados a ouvir as empresas dizendo que estão buscando a formação de "Líderes Perfeitos" que até ficamos confusos quando lemos a expressão "Líderes Prefeitos", não é mesmo? Mas você sabia que eles existem, são muito comuns nas empresas brasileiras e que são extremamente prejudiciais para o progresso e crescimento de qualquer empresa? Vem comigo que eu te explico...
Ao contrário do que o senso comum prega, os prefeitos, ou os políticos de forma geral, não são pessoas incompetentes. Muito pelo contrário! São inteligentes, espertos, possuem uma habilidade de comunicação e retórica muito elaborada e, muitos deles, possuem perfil hands-on, levando-os a se envolver em muitas tarefas e trabalhar 16, 18 horas por dia. Esse alto nível de energia que eles detêm cria ao redor deles uma atmosfera que envolve e fascina as pessoas, ampliando cada vez mais seu eleitorado. No entanto, um dos grandes problemas que eles enfrentam é o TEMPO. Essa é uma variável que eles não conseguem controlar, mas apenas manejar. No Brasil, é sabido que os mandatos dos políticos têm duração de 4 anos e é exatamente aí que está o problema.
Para que um país possa evoluir, existem projetos que, embora sejam essenciais e extremamente necessários de serem feitos, não podem ser realizados em apenas 48 meses. São os chamados projetos de longo prazo, que desde a ideação e projeto até a entrega final das obras, possuem horizontes que facilmente extrapolam o tempo em que aquele determinado político permanecerá no cargo. E aí, como eles teriam o trabalho de plantar, mas não teriam tempo de colher os frutos dos projetos, eles simplesmente não plantam! A muitos deles, é recorrente o pensamento de "Deus me livre de arrumar a cama para outro descansar!". Só que isso é trágico para o desenvolvimento de nosso país! Ficamos atuando em iniciativas pequenas e sem pretensão e, muitas vezes, abandonamos os produtos entregues à própria sorte, visto que, ainda na visão dessas pessoas, é melhor entregar algo novo do que cuidar do que já está pronto. E, para piorar, o novo gestor, ao assumir suas funções, resolve cancelar todos os projetos em andamento e iniciar os seus próprios. O resultado é o de sempre: entrega de pequenos projetos, com ganhos pontuais e desconexos, números camuflados e suspeitos, abandono e depreciação acelerada do que já foi entregue e promessas, muitas promessas.
"Quem planta tamareiras, não colhe tâmaras."
Muitos de vocês devem pensar: "Ahhh, mas isso é coisa da máquina pública, isso não acontece na iniciativa privada!" Não?
Segundo matéria publicada pela revista Exame em Junho de 2019, na média, por volta do ano de 2003, os líderes de empresas se mantinham no cargo por 4,7 anos. Hoje ficam menos de três. Os que passam de uma década são extrema minoria. Se formos descer alguns níveis e realizarmos a análise sobre cargos de gerência e supervisão, por exemplo, muitas vezes o que se vê é que líder não permanece no cargo nem por 2 anos.
Considerando esse cenário de pouca longevidade das lideranças nas empresas brasileiras, o que se percebe é um comportamento dessa liderança análogo ao dos políticos citados acima. No fundo, todos sabem que existem projetos e tarefas muito importantes que têm que ser realizados, mas como os frutos não surgirão em seus curtos horizontes, eles nem os iniciam. E mais, abafam as iniciativas de seus colaboradores quando percebem que eles insistem que é necessário iniciar certos projetos e tarefas, pois são precedentes importantes para que muitos outros processos possam ser rodados da maneira correta. "Foca no simples!" é uma frase recorrente no ambiente corporativo, mas ignoram a percepção de que para focar no simples é necessário rodar um pré-work enorme anteriormente.
Um exemplo disso é o fato dos robôs executarem tarefas de forma rápida e rotineira (simples?) e com uma assertividade gigantesca em relação à execução humana, mas não podemos deixar de citar o complexo trabalho de programação que alimentam os robôs com todos os parâmetros necessários para que eles possam operar. Um pré-work de milhares de páginas de códigos de computação que teve de ser elaborado por uma equipe de várias pessoas em um período de dedicação que, muitas vezes, excede o horizonte de 3 anos de trabalho.
Percebe-se também, inúmeras empresas investindo centenas de milhões de dólares em implantações de sistemas ERPs como o SAP, por exemplo, mas subutilizando os sistemas na rotina, pois os líderes "prefeitos" não fizeram o pré-work de alimentar as bases de dados de forma completa. Embora muito importante, essa tarefa lhes daria um trabalho imenso e os frutos não seriam colhidos em seu "mandato". No dia a dia, mesmo com o altíssimo investimento realizado nos sistemas, os staffs trabalham com planilha de Excel, pois assim é mais rápido e fácil de se fazer.
Basta refletir um pouco e você poderá identificar na sua empresa centenas e centenas de exemplos de desperdícios que toleramos todos os dias e que as soluções estariam em projetos de longo prazo que a liderança brasileira não se habilita a promover.
Uma boa solução para este problema seria a implantação de uma gerência corporativa de gestão de projetos que delegaria às gerências de área projetos transversais que seriam de implantação obrigatória para o gestor que assumisse a função. Isso garantiria que projetos complexos seriam priorizados (quando devem ser) e devidamente implantados, não importa qual o gestor ocupa a cadeira no momento. Essa gerência seria responsável por fazer toda a análise de viabilidade dos projetos ao longo dos anos, cobrando do gestor responsável os resultados esperados. Além dos projetos transversais (lhes dei esse nome, pois atravessam a gestão de vários líderes ao longo do tempo), cada gestor teria também sob sua responsabilidade os projetos pontuais, geralmente com horizonte de 1 ano ou menos.

A gerência de implantação de projetos transversais deveria realizar, periodicamente, auditorias para aferir o andamento das implantações e deveria reportar diretamente ao Diretor Geral da corporação, visto a complexidade dos escopos tratados ao longo dos anos.
Cabe ressaltar que com o patrocínio da alta liderança, se angariaria maior envolvimento dos gerentes de área, impulsionando as implantações e melhorando os resultados gerais da corporação.
Então, nossos líderes "prefeitos" adotariam nova postura, fomentando aquilo que realmente é importante de ser realizado para o crescimento da corporação, além daquilo que lhes convém apresentar no curto prazo.
É um desafio, eu o sei, mas é um caminho certo para as empresas brasileiras que desejam romper as barreiras do óbvio e começar a apresentar resultados excepcionais.
Se você leu até aqui, deixe seus comentários abaixo. Vai ser muito bom e enriquecedor receber sua opinião e debater a respeito.
Um forte abraço e sigam nessa pegada!
JULIO RIBEIRO
Engenheiro de Produção
Especialista em Engenharia de Manutenção pela ABRAMAN
Especialista LEAN e em Value Stream Mapping
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